Quem sou eu?!

Que perguntinha difícil pra mim.

Tão mais fácil seria dizer quem é Deus. A resposta é única, clara, sem dúvidas. Não cabe conjecturas, especulações, filosofias. Deus é. Seus atributos são claros, definidos e definitivos. Já eu...

Segundo Clarisse Lispector: “Completa lembra realizada. Realizada é acabada. Acabada é o que não se renova a cada instante da vida e do mundo. Eu vivo me completando... mas falta um bocado.” Eu concordo. Completo, perfeito e imutável só Deus. Eu estou em constante aprendizado (e desaprendendo o inútil e sem valor que aprendi).

Como diz a canção de Oswaldo Montenegro, “Que a força do medo que tenho não me impeça de ver o que anseio. Que a morte de tudo em que acredito não me tape os ouvidos e a boca, porque metade de mim é o que eu grito, mas a outra metade é silêncio. Porque metade de mim é o que ouço, mas a outra metade é o que calo. Porque metade de mim é o que eu penso, mas a outra metade é um vulcão. Por que metade de mim é a lembrança do que fui, a outra metade eu não sei. Porque metade de mim é abrigo, mas a outra metade é cansaço. Que a arte nos aponte uma resposta mesmo que ela não saiba; e que ninguém a tente complicar, porque é preciso simplicidade pra fazê-la florescer, porque metade de mim é platéia e a outra metade é canção.” (Tão real pra mim estes versos)

E, o que penso, é misturado com tudo o que os outros pensam. Como o exagero, a hipocondria e a simplicidade da minha avó. O moralismo, o preconceito e o orgulho do meu avô. A força, a displicência e a passividade da minha mãe. A determinação, a intolerância e a segurança da minha dinda. O vazio, a frustração e a insegurança deixados pela ausência do meu pai.

Em mim há ainda os pensamentos do mundo. Mistura de grandes e medíocres pensadores: Platão, Gibran Khalil Gibran... até o “Zé da esquina” (qualquer pessoa).

Como é fácil absorver informações. Difícil é processar tudo de forma coerente, segundo a verdade (que é Deus quem define), e ter a própria identidade demarcada, você não acha?!

Às vezes, não sei o que gosto nem o que quero. Isso é muito constrangedor. Não é de hoje, que me sinto cheia de “certezas incertas”. É como se misturasse tudo o que já vivi, ouvi e li fazendo uma miscelânea que nem sempre se harmonizam. Onde o resultado é uma obra de arte excêntrica, que, infelizmente, nem todos compreendem e gostam (esse “todos” sou eu mesma).

Muito clichê, mas existem várias de mim. Sou uma mistura bem complexa de mim mesma, como todo ser humano.

Ontem, li uma frase que me fez pensar: “Você é único, assim como todo mundo.” Não sei quem é o autor, mas entendo que ele usou tal frase com duplo sentido. O que ele queria dizer mesmo, é que ninguém é especial. Somos únicos individualmente, mas TODOS são. Ninguém quer ser mais um na multidão. O desejo de “ser” é natural em mim, mas me acostumei a pensar como parte de um todo, onde a minha parte é muito insignificante pra fazer bem ou mal a esse todo. Como, se dificilmente, eu fosse encontrar o sentido e a realização de “ser” em mim. (E com certeza não encontrarei, tal descoberta se faz em Cristo Jesus; mas não quero falar da minha fé, quero analisar a mim mesma).

Gosto de tantas coisas... Ler, dançar, escrever, cantar, desenhar, pintar, fotografar, encenar. Usar reticências, aspas, parênteses e dar três adjetivos às coisas, nos meus textos; fazer listas, cronogramas e planos (pena que muitos –a grande maioria- fique só no papel).

Gosto do azul e do amarelo. Do verde e do vermelho.

Gosto de dias de sol, de sentir a brisa, tomar banho de chuva, banho de piscina. De sentar na areia da praia, de me bronzear. Sentir calor, sentir a água nas mãos. Como é gostoso o sentido do tato: dar e receber um carinho, um abraço, um beijo.

Gosto de estar com minha família, de reunir os amigos, organizar e participar de festas.

Gosto de conhecer e provar coisas novas, diferentes, exóticas. De mudar a cor e o corte de cabelo, ter uma “cara” diferente, como se isso fizesse de mim alguém distinto ou marcasse uma nova etapa da minha vida.

Gosto de debates, de opinar, mostrar o meu ponto de vista, de conhecer a opinião dos outros (desde que sejam coerentes e inteligentes). Gosto de dar aulas, falar em público, ser notada.

Gosto de estudar a Bíblia, ir ao templo, estar com os irmãos, ouvir sermões, preparar aulas e ministrar estudos.

Gosto de ficar acordada até tarde e acordar mais tarde ainda. Gosto de fazer compras, guardar nos armários e vê-los cheios. Gosto de lavar roupas (na máquina, é claro. Só dou uma esfregadinha no que é necessário) e estendê-las para depois olhar e admirar o varal (idiota, né?).

Gosto de usar o computador. Word, Excel, Power Pont, Internet. Sou capaz de passar horas pesquisando, lendo blogs, usando o Facebook, procurando e baixando livros, vídeos e imagens. Utilizando a Bíblia online, dicionários e o Google Tradutor.

Gosto de assistir filmes com meu amor (comédia romântica, histórias reais, aventura e alguns dramas –leves- muito drama, não), desenhos animados com meus filhos (conheço quase tudo de desenho) e de assistir sozinha, documentários.

Gosto de ler histórias pros meus filhos e fazer a voz de cada personagem; de conversar no banheiro com o meu marido (fazemos “grandes conferências” no banheiro), de conversar enquanto caminhamos ou na cama, bem de madrugada, depois de fazermos amor.

Gosto de livros, não só de ler, mas de tocar, folhar, sublinhar, sentir o cheiro do papel a cada página virada.

Gosto de cozinhar, desde que eu possa inventar ou dar o meu toque pessoal aos pratos. Vasculhar o caderno de receitas e fazer algo novo e diferente é maravilhoso.

Gosto de guardar memórias: fotos, cartas, bilhetinhos, convites, lembrancinhas, torpedos. Gosto de papel. Tenho arquivos no computador, mas gosto de imprimir e ter o papel na mão pra ler e arquivar em pastas específicas.

Gosto de muitas coisas. Mas, não é só o que gosto que faz de mim quem sou. O que não gosto também.

Não gosto de inverno, dias chuvosos, frios e congelantes (não dá vontade de sair debaixo das cobertas). Não gosto de dias nublados (muito deprê). Não gosto de ventilador no verão, nem de aquecedor no inverno (mas eu os uso). Não gosto de ficar descalça nem de sentir as mãos sujas. Não gosto de fazer faxina. Não gosto de passear no shopping sem comprar nada.  Não gosto de jogos de cartas, videogame ou computador (só gosto de Imagem e Ação, Wii, Perfil, Master, Trivial... Jogos de agir e responder). Não gosto de ouvir falar de doenças ou epidemias. Se as doenças forem raras eu detesto (até bem pouco tempo eu não podia ver Dr. House). Não gosto de ser contrariada nem pressionada (alguém gosta?). Chato, é alguém não aceitar as minhas idéias ou não entender o que estou falando... (Do que eu estava falando mesmo? Ah! Quem sou eu!)

Eu sou mulher, hormônios a flor da pele, TPM. Careço de palavras de afirmação e receber presentes, um pouco de toque físico; qualidade de tempo e formas de servir são necessidades do meu marido, não minhas (segundo o livro As Cinco Linguagens do Amor). Sou sonhadora, vivo fazendo histórias na minha cabeça, criando situações e diálogos. Tenho sonhos, mas adormecidos. Não são muitos, também não são inatingíveis; só estão em mim, guardados na pasta “Algum Dia”. Por que não hoje? Falta de coragem, de iniciativa, de vontade? Medo? Preguiça?  Não sei, deixa pra depois esta reposta. É assim que faço com tudo que não quero encarar.

Taís Cristine de Oliveira – Porto Alegre, 06 de julho de 2011.